domingo, 5 de dezembro de 2010

Carlos Simon: ‘Ninguém nunca tentou me comprar’ Fluminense x Guarani vai ser último jogo do juiz de três Copas


Publicado pelo site Lance!Net em 04/12/2010.
Por: Léo Burlá

Quando apitar o fim da partida entre Fluminense e Guarani neste domingo, o árbitro gaúcho Carlos Eugênio Simon também colocará o ponto final em uma trajetória de 27 anos e 1.197 jogos. Em entrevista exclusiva ao LANCENET!, ele fez um balanço de sua vida dentro dos gramados:
– Tive mais acertos do que erros.
Concentrado para a hora do apito final, ele revelou que estuda convites. Confira a íntegra do papo com o mais importante juiz brasileiro dos últimos anos.

Um árbitro se prepara para a aposentadoria?
Árbitro tem idade-limite, portanto, sabia que pararia aos 45 anos. Mas 27 anos não são 27 dias. Será uma emoção muito grande.

Apitar o jogo que poderá decidir o título brasileiro é um fecho com chave de ouro?
Com todo o respeito aos profissionais do Fluminense e do Guarani, o jogo é decidido em campo. Não penso em nada que não seja um jogo perfeito neste domingo.

O que faltou para você apitar uma final de Copa?
Estávamos cotados para 2010, mas isto não depende da gente. Entenderam que o inglês (Howard Webb) deveria apitar.

Você se considera o maior entre todos os juízes brasileiros? Sua longevidade deve-se ao baixo nível da arbitragem nacional?

Não me considero acima de todos. Fui apenas um sujeito que trabalhou demais. Tivemos grandes árbitros como o Arnaldo Cézar Coelho, o José Roberto Wright e o Agomar Martins. O material humano é bom, é preciso lapidá-lo.

Como avalia o trabalho de Sérgio Corrêa, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF?
Ele vem tentando, é um trabalhador. Há um processo de renovação, mas temos muito o que evoluir. Temos de acabar com o sorteio, regulamentar a profissão e profissionalizar os árbitros. Considero bom o trabalho do Sérgio.

Com o fim do sorteio, qual deveria ser o modelo adotado?

Os melhores tem de apitar os melhores jogos. O sorteio prejudicou a arbitragem nacional. O único lugar onde se faz sorteio é aqui.

Alguém já quis te comprar?
Jamais! Nunca ninguém me ofereceu nada. A corrupção não é comum na arbitragem. Houve o caso Edílson (de Carvalho, pivô de um esquema de manipulação). Só soube deste episódio.

O que achou dos últimos episódios de corrupção envolvendo o presidente Ricardo Teixeira?

Não acompanhei a fundo.
Quais serão seus passos após o término da sua carreira?

Há propostas para comentar e ser instrutor de árbitros. O presidente Lula me sondou para trabalhar na organização da Copa de 2014. Vou descansar e decidir.

Juiz do Brasileiro luta contra o tráfico e coordena ocupação do Complexo do Alemão




Publicado pelo site Uol em 01/12/2010.
Por: Luiza Oliveira
Em São Paulo

AS DUAS VIDAS DE DJALMA BELTRAMI

Beltrami coordenou uma equipe de 40 policiais entre os cerca de 2600 agentes que participaram da invasão ao conjunto de favelas no último domingo pela manhã e hastearam uma bandeira do Brasil no topo como símbolo do combate ao crime organizado.
Seu grupo conseguiu apreender uma grande quantidade de drogas, armas e prendeu dois criminosos. O tenente-coronel ainda participou de um confronto com troca de tiros no local, que resultou na morte de um traficante considerado de alto escalão.
Apesar de estar sempre em perigo, ele se sente orgulhoso das conquistas no Rio de Janeiro. “Este é um momento ímpar na nossa vida. Vivemos problemas por causa de muita coisa que deixou de ser feita. Não acabamos com a criminalidade, mas mostramos que a sociedade não perde de ninguém com as forças estatais, militares e civil unidas. Agora eles sabem que a gente entra em qualquer lugar. Os marginais achavam que isso nunca ia acontecer. Eles foram covardes e correram”, disse, em referência à fuga dos traficantes diante da invasão policial na Vila Cruzeiro, na última quinta-feira.
Beltrami tem dedicado todo o seu tempo no combate ao tráfico e teve de deixar o apito de lado pelos acontecimentos recentes que dominaram o noticiário, ganharam repercussão internacional e levaram medo à população carioca.
Desde segunda-feira (22) sua rotina foi alterada, se transformando praticamente em uma escala ininterrupta. Entre quarta-feira e sábado, não pôde sequer voltar para casa e precisou pedir dispensa junto à Comissão Nacional de Arbitragem da CBF para não ser escalado para a 37ª rodada do Campeonato Brasileiro, no último fim de semana.
Pouco antes de o caos se instalar e haver a necessidade de migração para o Complexo do Alemão, Beltrami combatia os frequentes ataques a carros e ônibus na Zona Oeste, que incluem os bairros Bangu e Realengo. A área é da responsabilidade do 14º Batalhão, engloba 139km quadrados e representa a maior população para uma única área policial do Rio de Janeiro.
Mesmo após o domínio da polícia e o aparente clima de tranquilidade na cidade, os momentos tensos não terminaram para o árbitro do Brasileirão. Na segunda-feira, o dia de trabalho (que durou de 9h às 23h) contou com um novo confronto no Alemão, que culminou na morte de mais um criminoso.
Na terça-feira, a primeira atividade programada era a inauguração de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora, a chamada UPP, no Morro dos Macacos em Vila Isabel. Beltrami ainda não sabe como será a rotina nos próximos meses, mas espera que aos poucos volte ao normal.
Casado com Cristiane e pai do menino Raí, ele admite que o medo é comum na vida de sua família. “Têm sido dias difíceis. Antes trabalhava impedindo os ataques e agora há confrontos aqui no Alemão. Graças a Deus, a entrada não teve derramamento de sangue, prova do profissionalismo da polícia. A família fica muito apreensiva e a gente sente receio. Mas o medo nos faz ficar vivos.”
Com tantas obrigações em prol da defesa da sociedade, a arbitragem hoje é secundária. Desde que assumiu o batalhão, há cerca de dois anos, as responsabilidades como Militar aumentaram e os jogos no meio da semana tiveram que ser interrompidos. O ofício nos campos se tornou um hobby e um incremento no orçamento do fim do ano.
“Minha condição de Militar sempre me obrigou a ter bom condicionamento físico e o futebol é uma paixão. Mas tenho o policial dentro de mim. A arbitragem não paga as minhas contas. Serve para comprar algo a mais, trocar o carro no fim do ano...”, avalia.
Assim como no trabalho da polícia, Beltrami diz não gostar de missões fáceis no campo e considera que um emprego ajuda o outro. “Não gosto de jogo fácil. Não precisa ser o mais importante, mas são os difíceis que me dão satisfação. E aprendo muito como policial porque não há momento para o erro, pode ser fatal e custar uma vida. No campo há pressão, mas o erro do árbitro gera apenas polêmicas. Creio que lido bem com esse tipo de coisa.”