quarta-feira, 15 de junho de 2011

Marcelo de Lima Henrique: "O futebol é um grande negócio e o árbitro é o único amador"



Entrevista publicada no site da ANAF - Associação Nacional dos Árbitros de Futebol

Com as aposentadorias recentes de grandes nomes como Carlos Eugênio Simon e a mudança de profissão de profissionais da estirpe de Leonardo Gaciba, novos valores aparecem com força na arbitragem brasileira. O carioca Marcelo de Lima Henrique é um deles. Árbitro de futebol há 16 anos, desde 2002 está no quadro da CBF e em 2008 figura na lista da FIFA.
A inspiração para seguir a carreira começou em casa com seu pai, José Henrique Neto, que também soprou o apito. Aos 39 anos foi eleito o melhor do último estadual do Rio de Janeiro, campeonato que marcou sua história após o famoso jogo do "chororô" envolvendo Flamengo e Botafogo em 2008.
O 1º sargento da Marinha brasileira defende a profissionalização da arbitragem, a qual ainda necessita da aprovação do Congresso Nacional. Para Marcelo de Lima Henrique "o futebol é um grande negócio e o arbitro é o único amador".
Confira a entrevista:
ANAF: Como e quando você começou a carreira na arbitragem?
Marcelo: Meu pai José Henrique Neto foi árbitro por 17 anos, e eu o acompanhei pelos campos desde muito cedo. Fui goleiro da base do Bangú, América e Operário-MS. Depois de encerrar a carreira nos clubes entrei para Marinha, continuei sendo goleiro das seleções Militares, até que em 1995 meu pai me incentivou a fazer o curso de árbitros e graças a uma bolsa de 50% concedida pelo ex-árbitro FIFA e Diretor da escola, Carlos Elias Pimentel, pude fazer o curso já que a grana era curta.
ANAF: Qual foi a reação dos familiares e amigos quando você disse que iria seguir nesta carreira?
Marcelo: De total apoio. Assistia a muitas partidas pela TV e nos estádios com meu pai e familiares e sempre discutia regras. Minha esposa adorou, ela disse uma frase que eu nunca mais vou esquecer: "Você nasceu para liderar. Não gosta de mandar, vai mandar no campo agora."
ANAF: Além da arbitragem, qual sua outra profissão?
Marcelo: Tenho muito orgulho de ser 1° Sargento Fuzileiro Naval da Marinha do Brasil.
ANAF: O que acha da profissionalização da arbitragem?
Marcelo: Essencial, urgente! Todos os seguimentos do futebol têm que encarar essa situação de frente e criar mecanismos legais para se viabilizar essa demanda urgente. O futebol é um grande negócio e o árbitro é o único amador. Ainda bem que os árbitros de elite do Brasil, junto com a CONAF e algumas CEAFs encaram a atividade de maneira profissional e se empenham ao máximo para criar um ambiente propício para treinamentos, aprendizado e reciclagem.
ANAF: Você é apontado como um dos jovens árbitros de maior qualidade, inclusive foi eleito o melhor do Campeonato Carioca. Como avalia estas escolhas?
Marcelo: Fico muito feliz em ter meu trabalho reconhecido. Minha família sabe o quanto dou duro para crescer na carrreira, esse prêmio dedico a minha esposa e meus filhos. Em 2006 arbitrava a série C do Brasileiro e o Dr. Édson Resende me promoveu para série A em 2007, confiando em meu trabalho e apostando em mim. Sou muito grato a ele. O sucesso só vem depois de muito trabalho, creio. Minha trajetória na arbitragem é feita de muitas lutas. Meus amigos mais próximos sabem que eu sempre confiei em mim. Só conheço um caminho para se vencer na arbitragem, trabalho!
ANAF: Há diferença entre apitar o estadual, o Campeonato Brasileiro e a Libertadores? Quais?
Marcelo: Sim, pois arbitramos partidas de equipes com culturas futebolísticas diferentes. A regra é única, mas a maneira de jogar é diferente, mas nós árbitros temos que ter critérios definidos do início ao fim da partida. Cada partida é uma partida. A dosagem do remédio varia, sempre dentro da regra. Arbitrar é pensar!
ANAF:Na sua opinião quem são os outros bons árbitros da nova geração?
Marcelo: Vejo várias partidas, todas as possíveis e gosto muito do Phatrice Maia e Wagner Magalhães do RJ, Marcos Penha-ES, Márcio Chagas-RS, Luiz Flávio de Oliveira-SP e Francisco Nascimento-AL.
ANAF: Quais são seus objetivos na carreira a curto, médio e longo prazo?
Marcelo: A curto prazo quero muito arbitrar um torneio da CONMEBOL, pode ser qualquer um sub-15, sub-13, sub-11. A Copa América. Por que não sonhar? A médio prazo quero estar inserido no processo de seleção para Copa do Mundo de 2014 e estar inserido entre os árbitros de primeira linha da CONMEBOL. A longo prazo, não faço planos, pois sei que o Senhor nosso Deus tem planos grandiosos para mim e quero estar pronto para eles. Sinceramente.
ANAF: Acompanha o trabalho da ANAF? O que acha?
Marcelo: Acompanho e sei que o companheiro Marco Martins (presidente da ANAF) é um trabalhador e juntamente com a sua diretoria está antenado, em favor da categoria. Sabemos que a harmonia e a conversa são o melhor caminho para se resolver questões delicadas, ainda somos prestadores de serviço. Todos sabem que as condições financeiras da ANAF são precárias devido a questões passadas, mas com o apoio de todos os árbitros cresceremos juntos, deixando um legado para futuras gerações de árbitros.
Jogo rápido
ANAF: Qual seu jogo inesquecível?
Marcelo: Flamengo 2 x 1 Botafogo (o famoso jogo do chororô) pela final da taça Guanabara de 2008. Ali começaram a conhecer meu trabalho. Os mesmos que me massacraram, agora me respeitam e solicitam minha arbitragem.
ANAF: Se você possível escolher entre apitar a final da Copa do Mundo ou ver o Brasil na decisão o que iria preferir?
Marcelo: Não posso mentir. Com certeza arbitrar a final. O Brasil já é penta, consagrado, que me desculpem, mas meu time é Arbitragem F.C.
ANAF: Qual seu ídolo na arbitragem?
Marcelo: Quando se falar em arbitragem Brasileira, tem que se falar em Armando Marques, foi um ícone. Meus espelhos sempre foram o corajoso Wilson Carlos dos Santos-FIFA-RJ, Antônio Pereira (Tonhão)-FIFA-GO, Márcio Rezende de Freitas-FIFA-MG, Carlos Simon-FIFA-RS e Wilson Seneme-FIFA-SP.
ANAF: Deixe um recado para quem deseja seguir a carreira
Marcelo: Alicercem suas carreiras no trabalho e na verdade. Respeitando seus companheiros e superiores. O caminho pode ficar até mais longo e árduo, mas quando entrar no campo de jogo, muitos verão que ali está um grande homem.

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